Capital vê demanda menor por apartamento pequeno

Estudo do Secovi/RS aponta que procura por aluguel de Jks despencou durante a pandemia

 

A locação de imóveis pequenos em Porto Alegre sofreu um impacto negativo durante a pandemia. Segundo estudo divulgado pelo Secovi/RS, houve redução de 46,6% na quantidade dos JKs alugados na Capital em 2021 quando comparado a 2019, considerando o período de janeiro a maio de cada ano. Na comparação de 2020 com 2019, a queda foi de 29,2% nos contratos de JKs e de 28,3% nos contratos de salas/conjuntos.

O estudo salienta que o desempenho apresentado pode estar relacionado ao fechamento do comércio e, principalmente, à interrupção das aulas presenciais durante a pandemia. Isso porque o JK é um imóvel muito procurado por estudantes que vêm de diferentes regiões do Brasil e do Estado para estudar nas universidades de Porto Alegre.

Para a economista do Secovi/RS, Lucineli Martins, além desta situação, o fato de muitas pessoas terem perdido os seus empregos e, consequentemente, terem reduzido a sua renda familiar contribuiu para a queda das locações. “No início, imaginava-se que a pandemia seria menor, mas depois ela foi se acentuando. Fica complicado para as pessoas arcarem com o aluguel, sendo que os alunos estão tendo aulas online. Acho que muito do planejamento familiar foi revisto”, avalia.

Dentre os bairros de destaque, estão a Cidade Baixa e o Centro Histórico, que representam cerca de 45% da quantidade amostral dos JKs alugados em Porto Alegre. Segundo o estudo, na análise da Cidade Baixa, houve queda de 43% em 2020 quando comparado a 2019, considerando o período de janeiro a maio. De 2020 para 2021, a queda foi de 9%. Já no Centro, a queda foi de 16% em 2021, quando comparado a 2020, e de quase 40% de 2020 para 2021.

A expectativa da economista é de que, com o retorno das aulas presenciais, haja uma recuperação no número de locações. Neste segundo semestre, algumas universidades da Capital planejam adotar o ensino híbrido, com aulas remotas e presenciais. Na Pucrs, por exemplo, pelo menos 20% da carga horária de cada curso será presencial, o que deve fazer com que a procura por imóveis aumente, dando início a uma retomada.

De acordo com Lucineli, a situação dos apartamentos de um dormitório já apresenta uma recuperação, acompanhando o cenário do mercado imobiliário como um todo, que já apresenta bons resultados. Em 2021, as locações de imóveis de um dormitório cresceram 31% em relação a 2020, considerando os cinco primeiros meses de cada ano. Essa mesma trajetória, porém, ainda não ocorreu com os JKs.

“Os JKs são muito para esse público. Geralmente, é um imóvel com um valor menor”, afirma ela. “O Centro e a Cidade Baixa são bairros bem localizados, tem ônibus para todos os locais. Muitos estudantes morando nesses bairros conseguem locomoção para todas as universidades”, complementa.

Queda também pode ser reflexo de busca por imóveis maiores

Para a diretora de aluguéis da Crédito Real, Keli Queiroz, a redução das locações de imóveis pequenos também está relacionada à mudança de comportamento dos moradores. Antes, pessoas que moravam em apartamentos menores, como é o caso de um JK, saíam a todo momento para trabalhar ou estudar, passando boa parte do tempo fora de casa. Isto, em razão da pandemia, não tem mais acontecido.

“Há um interesse por um pouco mais de qualidade de vida no dia-a-dia”, conta. “Com esse contexto de ficar em casa, vimos uma migração de clientes para apartamentos maiores, com um pouco mais de área livre, com uma sala, uma sacada”, explica.

Esta situação se reflete nos números. De acordo com o estudo do Secovi/RS, nos primeiros meses de 2021, comparativamente ao mesmo período de 2018, houve crescimento nas locações de apartamentos de 3 dormitórios ( 23,1%), casas de 2 dormitórios ( 100%) e de 3 dormitórios ( 137%). Os dados mostram que a busca por imóveis maiores cresceu a níveis maiores do que antes da pandemia. Acredita-se que o Home Office e o ensino remoto trouxeram necessidades de espaço que talvez antes não fossem necessárias.

Quem concorda é Mário César Soares, diretor de aluguéis da Auxiliadora Predial. Para ele, a necessidade de distanciamento, de fato, foi um vetor para esse movimento. Ele acredita que, durante a pandemia, morar bem passou a ser uma prioridade para todo mundo. “Percebemos muito uma migração de imóveis menores para imóveis maiores. Praticamente das pessoas que entrevistamos sentiram a necessidade de ter um escritório em casa, por exemplo”, afirma.

Equivalência de valores é atrativo para mudança

A busca por espaços maiores também parece estar atrelada a uma pequena diferença de valores entre os imóveis. Diretora de aluguéis da Crédito Real, Keli Queiroz conta que tem percebido este movimento. “Hoje, o valor de um JK, se pegar aluguel, IPTU e condomínio, somando essas verbas, é quase equivalente ao valor de um imóvel de um dormitório”, diz. “A diferença é muito pequena, e o espaço é diferente. Uma coisa é ter um JK, que é uma peça em que se compartilha todos os ambientes, outra é ter um imóvel com dormitório, uma sala e uma cozinha separada”.

Segundo ela, a equivalência de valores, que faz as pessoas buscarem um espaço maior, vem logo atrás da situação dos estudantes como principal motivo para a queda nas locações de pequenos imóveis. “Eu acho que esses dois pontos são bem próximos. Mas, com certeza, o fato de não ter aula presencial é o principal”, avalia. Para a diretora, a tendência é que, com a retomada, a busca por esse produto aumente.

De acordo com o diretor de aluguéis da Auxiliadora Predial, Mário César Soares, o valor do metro quadrado no Centro Histórico, por exemplo, é semelhante para o imóvel de um dormitório e para o JK, ficando em torno de R$ 20,00 a R$ 25,00. Já para o imóvel de 3 dormitórios é de cerca de R$ 17,00. Ele acredita que o futuro retorno dos estudantes para a Capital deve resolver a situação dos pequenos imóveis. Porém, há de se ressaltar a procura por imóveis maiores.

Fonte: Jornal do Comércio/João Pedro Rodrigues

Data: 19/08/2021

 

 

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