Renegociações aquecem aluguel comercial

Impactado pelos efeitos da pandemia, o mercado de locações de imóveis vem apostando nas renegociações de contratos para evitar a devolução de chaves e o esvaziamento definitivo de pontos comerciais. Em Porto Alegre, essa estratégia garantiu a manutenção de muitos contratos ao longo de 2020 e ainda vem sendo adotada para dar fôlego ao segmento, que estima um período de recuperação.

Se depender do primeiro trimestre de 2021, a tendência será de um ano melhor para as locações. Segundo o Sindicato da Habitação (Secovi-RS), após o cenário difícil de 2020, os aluguéis vêm apresentando recuperação no geral, registrando um incremento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. “No que concerne especificamente ao corrente ano, vale destacar que ocorreram muitas negociações sobre os contratos de locação comercial já existentes, em face da elevação ocorrida no IGPM. Como se sabe, o IGPM sempre foi o indexador normalmente utilizado nos contratos de aluguel. A expectativa é de uma melhora, porque vários indicadores mostram uma tendência à recuperação da economia. Voltando o dinamismo à economia em geral, as locações acompanharão o ritmo”, enfatiza o presidente da entidade, Moacyr Schukster.

Na Central de Imóveis, localizada na Cidade Baixa, as negociações diretas com proprietários de imóveis utilizados para comércio e serviços, desencadeadas desde o início da pandemia, foram fundamentais para a manutenção da carteira de clientes e giro dos negócios. Segundo o proprietário da imobiliária, Domenico Vacca Filho, 95% dos pontos comerciais alugados só foram mantidos graças a essa intermediação. “Para o proprietário não é vantajoso ter o imóvel desocupado, pois ele mesmo terá de arcar com obrigações como IPTU, água e luz. Por isso, não encontramos muita resistência nessas negociações. Os cerca de 5% dos imóveis que acabaram desocupados foi porque os locatários não conseguiram manter os acertos feitos, infelizmente”, relata.

Atualmente, segundo ele, há apenas 20 imóveis comerciais desocupados na imobiliária, de uma carteira de 650 nos bairros Cidade Baixa, Menino Deus, Centro e Bom Fim. Outros cerca de 40 entregues pelos locatários já foram realocados. “Fizemos de tudo para a pessoa não sair do imóvel. Alguns contratos foram isentados entre quatro e cinco meses, outros baixaram entre 30% e 40% do valor. Tivemos bastante trabalho, mas também êxito nessas negociações”, comenta Vacca.

De acordo com o empresário, o abre e fecha de comércios, bares e restaurantes, por conta das restrições da pandemia, foi crucial para desencadear o movimento de desocupação de imóveis na cidade. Na suspensão mais recente das atividades, em fevereiro deste ano, foi registrado volume maior de entrega de chaves. Agora, uma aquecida do setor vem sendo notada, com os empreendedores esperançosos diante das novas liberações. “O pessoal quer voltar a trabalhar, então buscam novos locais, tem ideias para negócios e isso tem movimentado a busca por pontos comerciais”, comenta.

Nova onda nesse sentido é aguardada para setembro, diz ele, quando o frio ameniza e os pontos com mesa na rua se tornam muito procurados para locação.

Para Rodrigo Soares, sócio-diretor da imobiliária Valor Predial, as locações comerciais também foram prejudicadas pela adequação do trabalho ao home office, que fez com que muitas empresas optassem por desocupar imóveis para reduzir gastos. “Além de questões econômicas, estamos passando por uma disruptura. Grandes empresas ainda estão adotando o modelo home office, o que reduz ainda mais a demanda por locações comerciais”, explica.

Na imobiliária, 60% da carteira teve de ser renegociada nos últimos meses, e 20% dos locatários acabaram cancelando contratos de aluguel. “Por motivos variados, fechamento da empresa, redução de custos e falta de flexibilidade de alguns proprietário de imóveis na renegociação”, destaca.

Para mitigar esses efeitos, a Valor Predial também investiu forte nos acertos entre locatários e proprietários, tanto por meio de aditivos contratuais como de ajustes nos acordos. “Os descontos foram de 25% até 50% em alguns casos. E, mesmo assim, atualmente temos 204 imóveis comerciais disponíveis, o dobro de antes da pandemia”, ressalta.

Fonte: Jornalista Fernanda Crancio/Jornal do Comércio

04 jun, 21

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